Exite um verdadeiro controle por parte da Igreja sobre as novas ordens religiosas?
Por outro lado, sabemos que este Instituto, do Verbo Encarnado, tem sua rama feminina: "Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará”, ambos compartem o mesmo fundador, as mesmas constituições, as mesmas missões e também têm muitas vocações espalhadas em muitos países, e é a este Instituto que eu quero me referir especialmente, pois conheço muito bem a realidade, porque vivi quase 20 anos como religiosa e agora lendo sobre o Cardeal e tudo o que a Igreja tem enfrentado com estas novas ordens, percebi como é importante que a igreja como mãe que é tenha algum controle sobre suas formas de entender e viver o evangelho, ou pelo menos, um controle mais prático e com menos atrasos, porque no caminho muitas almas se perdem.
Sabemos que a Igreja leva muitos anos cautelosamente para aprovar uma congregação religiosa como tal, mas algumas têm trabalhado por mais de 30 anos como se fossem congregações aprovadas quando são apenas uma Associação Pública de Fiéis, e o resultado disso são centenas de jovens que vêem suas vidas truncadas por fazerem parte dessas experiências de congregações. E a Igreja que sabiamente espera o tempo conveniente para aprová-los, no entanto, parece não vigiar essa ansia que possuem essas congregações religiosas por atrair vocações esperando que com um maior número possam ser rapidamente aprovados, mas o resultado visível é o número de pessoas danificadas pela inexperiência, pelo tratamento submetidos dentro das ordens religiosas por superiores jovens e inexperientes.
Finalmente estes institutos acabam sendo piores do que uma empresa que precisa se expandir e exigem o indizível de seus trabalhadores, mas quando algum membro decide ir-se ou por algum motivos tenham que deixar, essas ‘empresas’ -ordens religiosas- não se encarrega dos anos ali contribuídos, menos ainda de uma contribuição digna a sua previdência social, um convênio médico (no caso de algum membro com alguma enfermidade), em alguns casos são tratados com indiferença como um traidor do Senhor, do qual, é melhor não falar mais. Claro que houve exceções, mas poucas e distantes entre elas.
No meu caso entrei com 17 anos, na Argentina, Mendoza, junto com outras 29 jovens éramos um noviciado de 30 meninas e um número semelhante entrava a cada ano. Um Instituto que tinha apenas 20 anos de fundados, superiores muito jovens, muita alegria, muita pobreza para seguir a Cristo pobre, uma vida de oração, uma boa formação teológica, parecia o paraíso. Tanto que qualquer jovem de boa vontade que conhece decide ingressar, mas com o passar dos anos, a partir dos 30, quando nem tudo é euforia percebe que há coisas que não se explica e aí começam as perguntas, por exemplo:
1. Por que existem tantas deserções entre os religiosos professos perpétuos? Entram muitas e saem muitas, justamente após os 15-20 anos de vida religiosa, o que está acontecendo? Muitas das irmãs que partem tiveram posições importantes dentro do instituto, missões difíceis e importantes, algumas delas são admiradas por sua virtude, por que deixam tudo e nem sequer desejam falar sobre isso?
2. Por que das ‘doenças’ psicológicas, depressão, bulimia, bi-polaridade, etc. entre os membros?
3. Por que são eleitas as mais jovens para ser superioras, embora algumas delas não tenham sequer votos perpétuos? Uma vez perguntei isso a uma superiora e me respondeu "elas são mais dóceis". Pergunto-me a quem elas são mais dóceis, ao governo da congregação? Ou talvez porque elas -sendo tão jovens- não questionam nada? E se há superioras mais antigas, são aquelas que demonstraram fidelidade absoluta e obediência cega ao fundador (um fundador questionado pela igreja), ao conselho geral do IVE e aos superiores maiores. Caso contrário, se tiver aquilo que elas chamam de "opinião própria”, logo deixará de ser superiora ou será enviada a uma missão perdida no fim do mundo sem muita importância.
4. Amizades particulares entre religiosas são proibidas, o uso da internet é muito restrito, quase nulo, não existem telefones celulares pessoais, porque tudo o que vêm do mundo torna você mundano. Se essas coisas proibidas fossem somente com o propósito de filtrar coisas que não fazem bem à alma, é compreensível, mas quando é com o propósito de não receber notícias como as do cardeal mencionado acima, ou problemas atuais da igreja ou notícias sobre o fundador etc., é melhor não saber nada sobre o mundo mesmo! Porque tudo é calúnia e difamação contra as ordens tradicionais e, portanto, a vida interior dentro do convento passa a ser um mundo mais vigiado. É melhor não ter amizades particulares (como elas dizem), deste modo as conversações entre as religiosas são mais controladas, você aprende a não confiar nas suas irmãs religiosas, sabe que não vai ser correspondida se necessita conversar sobre algo um pouco mais profundo com alguma irmã, te ensinam como algo não apropriado, isso é apenas com o diretor e a superiora da convento. Deste modo você vai aprendendo pouco a pouco a cortar laços emocionais, caso contrário estará incorrendo em desordem, em murmuração, etc., todo o contrário do que a medicina ensina, que para uma pessoa ser psicologicamente saudável ela deve criar bons laços emocionais.
5. Uma jovem que entra aos 17/18 anos de idade se por alguma razão ela decide partir, ou o próprio instituto depois de tê-la enviado para missões muito difíceis e o cansaço da missão e da vida agitada esgotou suas forças ou de repente já não é tão útil, muitas vezes é deixada de lado, e a indiferença é tal que muitas, depois de vários anos de vida religiosa, se encontram fora do Instituto, por exemplo, aos 40 anos de idade, sem estudos válidos, sem previdência social e sem qualquer ajuda econômica para reconstruir suas vidas, porque supostamente o Instituto vive da caridade e não tem o suficiente para enfrentar tudo isso.
Conheço mais de 60 ex-companheiras religiosas que estão indo ao redor do mundo tentando reconstruir suas vidas o melhor que podem, sem que ninguém lhes dê sequer uma colaboração por tantos anos trabalhando para levantar o instituto missionário, e pergunto se a igreja não controla isso???? Que estas ordens religiosas, pelo menos, cumpram com as obrigações civis de cada país, de uma contribuição digna, etc. Não é melhor exigir que as novas ordens pelo menos cumpram essas obrigações antes de dar-lhes permissão para abrir um Instituto?
Este é um dos motivos pelos quais o Verbo Encarnado teme, pois existem leis civis sobretudo nos países europeus que contemplam os direitos dos religiosos, e tratam de que seus membros não fiquem sabendo, mas na América Latina, onde há mais vocações???? centenas de jovens dão a metade de suas vidas e na idade adulta, se não tiverem suas famílias para levá-las de volta são forçadas a viver uma vida muito difícil, algumas são obrigadas a baixar a cabeça (indiferente da má experiência que tenham passado) e pedir ajuda ao Instituto, implorar por alguma ajuda, como comida etc. E o Instituto o pública como uma grande obra de caridade "alimentar os famintos" e o mostra a todos os seus membros, a ajuda caritativa que fazem por um tempo. Isto faz com que algumas delas não querem sequer denunciar em alguns casos os abusos psicológicos, de autoridade e outros sofridos dentro do convento.
6. Se alguma religiosa expressa o desejo de sair, lhe dizem que é uma tentação à vocação, que deve esperar alguns anos até que a tentação desapareça. Não será isto uma manipulação de consciência? Se um religioso deseja ser dirigido espiritualmente por outro diretor espiritual que não é um membro da ordem, não lhe é permitido, diretamente se lhe proíbe, isto não seria um abuso de autoridade??
7. Um dos objetivos destes Institutos é tentar abrir casas religiosas em muitas partes do mundo, a fim de demonstrar sua expansão e evitar serem fechados pela igreja, mas isto ao custo de enviar jovens religiosos, às vezes com 23 anos, a lugares tão difíceis como Tanzânia, Papua, Rússia, Gaza, etc. sem saber o idioma, fazendo com que as primeiras irmãs que foram fundar nesses lugares, a maioria hoje ou estão em terapia psicológica ou estão fora da vida religiosa por causa de experiências traumáticas em alguns casos, mas o Instituto não faz disso um problema porque muitas jovens entram e há números para substituí-las constantemente. Agora eu me pergunto: A igreja não exige um tempo obrigatório na formação das jovens religiosas para as missões ad gentes? Quem observa que isso se cumpra? Não deveria ser assegurado que, pelo menos, a superiora desses lugares seja alguém maduro em idade e virtude?
Como um caso que conheci de uma freira de 23 anos enviada como superiora à Tanzânia a uma comunidade de apenas 3 irmãs (com ela havia 3). Conclusão: a superiora de 23 anos engravidou-se do jardineiro africano do convento e teve que voltar ao seu país de origem, com a própria humilhação de não ter sido como madre superiora exemplo de suas irmãs como o instituto lhe havia confiado. Mas neste caso em concreto para que não se dera a conhecer e não fosse causa de escândalo o casal foi ajudado economicamente a viver em outro país e formar sua família. Obviamente está proibido falar sobre essas coisas dentro do convento, e me pergunto: é culpa da jovem religiosa ou daqueles que a nomearam como superiora sendo inexperiente e em um país, língua e cultura tão diferentes de seu país de origem?
8. A ideia de expansão mundialmente nas novas ordens é essencial, e muitos bispos do mundo em vista da falta de vocações vêem isso como um presente do céu, mas há muito poucos que ousam controlar ou suspeitam porque as irmãs chegam e se vão das missões, são trocadas com tanta freqüência de comunidade e país como mudam de lugar as peças de um xadrez, e muitas sem poder se despedir das pessoas que conheceram, e se aconselham a não dar muita informação sobre essa irmã causando confusão entre os fiéis. Se uma Irmã decide sair apresentando o indulto de votos e retorna ao seu país de origem ou por algum motivo ficam no país onde estavam, como nos casos aos quais o Cardeal Braz de Avis se refere, já não recebem ajuda, nem atenção de nenhum tipo. Agora eu me pergunto aos bispos que as chamam para trabalhar em suas dioceses, não podem controlar que esses Institutos cumpram com as obrigações civis de contribuições, previdência social si é o ocaso, etc.? Sabem a origem e o destino das irmãs que são levadas para essas missões? Quando uma religiosa deixa a vida religiosa pela razão que seja, deve controlar que a justa caridade seja cumprida com essas pessoas que contribuíram tantos anos para o crescimento do Instituto, como o exigido pela lei canônica, ou devemos olhar para o outro lado só porque essas almas preferiram deixar a vida religiosa em vez de ser privada de sua liberdade interior? que é exatamente o que está ocorrendo em muitas ordens religiosas.
9. Se é a formação intelectual, neste caso concreto do Verbo Encarnado, é boa em comparação com outros, não deveríamos encorajar ao mesmo tempo uma formação humana e uma maturidade afetiva para que os religiosos possam ter critérios próprios, saber distinguir, pensar e que dar uma opinião livremente e com caridade? não é pecado, mas pelo contrário é um dever de um bom filho da Igreja. É a formação intelectual por si só suficiente?
Ensina-se a não dar opinião sobre nada, pois pode ser falta de santidade, a não pensar ou suspeitar de nada se não é falta de caridade, a não ser diferente do resto se não é falta de espírito do próprio carisma, a não duvidar do fundador e dos superiores porque deles se recebe todas as graças... enfim, me pergunto, isto não é uma ruptura psicológica a si mesma? Não é isso uma manipulação dos membros? A mensagem final para o subconsciente é que somente aqueles que não dão sua opinião, não pensam, são dóceis aos superiores atingirão altos graus de santidade, serão lisonjeados por seus superiores, serão modelos e até herdarão posições dentro do instituto.
E assim eu poderia continuar listando muitas outras questões, o objetivo não é criticar a vida religiosa que é bela, e através dela Deus continua a chamar muitos jovens, mas sim que nós nos conscientizemos especialmente daqueles que têm o poder de que se alguma pessoa iluminada pensa em fundar um instituto de vida religiosa devem saber que haverá centenas de almas de boa vontade que o seguirão, mas é a igreja que deve vigiar se é ou não um verdadeiro pastor. O tempo de espera, muitas vezes, para tomar uma decisão sobre certas congregações pode resultar a que muitas ovelhas se percam, é o que não podemos permitir.
Embora eu nunca tenha sofrido nenhum tipo de abuso no tempo que passei nas Servidoras, e embora eu tenha sido feliz como religiosa, não estou de acordo com esta maneira sectária de agir, são coisas que não podem vir do Espírito de Deus. Não sou indiferente à dor de tantas de minhas irmãs que sofreram abusos de autoridade, abandono quando adoeceram, etc, Nao me canso de ouvir o sofrimento de tantos que queriam dar a Deus o melhor de si mesmos, entregaram ao Instituto tudo confiando-lhe até mesmo sua própria liberdade, se deixaram guiar por outras religiosas inexperientes que cometeram erros que custaram a alguns deles sua própria saúde. Isto me faz repensar se o que realmente quer Jesus é o nosso silêncio ou que levantemos nossas vozes para que nossos pastores possam ouvir o grito de tantas irmãs que foram prejudicadas para que isso não aconteça com outras.
Recebo muitos testemunhos de pessoas prejudicadas por este instituto, tanto da rama masculina como na feminina, algumas com casos muito graves de abusos de autoridade, abandono sério de pessoas, abusos de consciência, privação de liberdade, outras apenas sofreram o esgotamento físico e mental de uma vida cheia de atividades sem descanso, horários exigentes, alimentação precária, etc. E eu me pergunto se esta é a vida religiosa que Nosso Senhor quer para suas filhas.
Que Deus ilumine nosso Papa e nossos bispos para que possam colocar ordem e seriedade na vida consagrada desses tempos modernos e que todas essas vocações que continuam a entrar e que levarão anos para perceber onde estão, não saiam danificadas e com a tristeza de saber que a Igreja estava consciente e não fez nada.
Que Nossa Senhora nos ilumine!
Ex servidora do Senhor e da Virgem de Matará
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