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Diversas denúncias públicas de abusos sexuais no IVE

 

"É como sentir que seu próprio pai te está violando"


Denúncia de Luis
Ano 2005:
Eu mantive silêncio, fiel ao "pacto" de não falar sobre este tema. Mas como todo, no final acaba vencendo a verdade, não pude aguentar este silêncio cômplice e acabei contando tudo a quem foi meu superior provincial nesse momento, o padre Gabriel Zapata, no ano 2005, sendo eu seminarista de segundo ano de filosofia do Seminario Maior Maria Mae do Verbo Encarnado, do IVE, em San Rafael, Mendoza. O Padre Gabriel Zapata me ouviu com muita atenção. Lembro-me de algumas coisas: disse-me que isso era muito grave; perguntou-me pelos detalhes, e eu lhe expliquei sem animo de vingança, senão querendo que chegue ao culpável meu perdão que lhe dissesse que eu estava bem. O que eu soube depois disso é que o trasladaram do Peru, onde estava missionando à Argentina. Soube depois de tê-lo encontrado em uma ocasião na casa religiosa que temos em Nihuil. Do resto das coisas fui descobrindo por própria conta. Não me lembro de que tenha recebido mais informação a respeito.
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(MDZOL) Luis conseguiu sair de seu tormento depois de18 anos no Verbo Encarnado (IVE), uma polêmica congregação religiosa fundada em 1984 pelo religioso Carlos Buela em San Rafael. Hoje ele conseguiu reconstruir sua vida e até mesmo perdoar aqueles que o agrediram, decidiu denunciar tudo para que isso não acontecesse com mais ninguém.

O testemunho dramático vem em um momento de intensa comoção social por alegações de abuso por parte de religiosos contra crianças deficientes auditivas no Instituto Próvolo em Luján de Cuyo.

"Aconteceu comigo, mas sei que também aconteceu com outros meninos", disse Luis, que se apresentou como uma "vítima de abuso do Instituto Menor no Verbo Encarnado". O jovem tem agora 31 anos de idade, mas o abuso começou quando ele tinha 12.

"Eu o escondi e não disse a ninguém por medo de quem me agrediu", disse Luis, cujo sobrenome será reservado em MDZ, porque 19 anos após esta situação aberrante, ainda tem efeitos em sua vida.

"Em 1997 fui abusado sexualmente quatro vezes em pouco tempo, no mesmo mês, em 2005 eu disse ao superior, Gabriel Zapata, mais tarde, no ano passado, percebi que nada havia sido feito e repeti a queixa ao bispo de San Rafael, Eduardo Taussig. Ele aceitou minha queixa (canalizada através da lei canônica), desta vez por escrito e decidi não fazer a queixa civil porque estou esperando que a Igreja determine algo", disse ele.

O jovem permaneceu na instituição até 2015, quando percebeu que ninguém havia feito nada com sua reclamação e, depois de repeti-la, desta vez por escrito, retirou-se para viver em outra província.

Outra denúncia
Escrevo-lhe esta carta com o objetivo de informar-lhe por escrito e com detalhe de um tema grave que considero deve ser dito e esclarecido; um tema no qual tive muita dificuldade em aceitar, mas que ja nao posso soportar, e em consciência, silenciar. Refiro-me a um episodio doloroso que devi padecer de parte do Pe. Carlos Buela, fundador e, então Superior Geral do Instituto do Verbo Encarnado.
O que eu relato ocorreu em maio de 2007, si bem lembro enquanto o Pe. Buela estava investigando
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"Nos mentiram; recentemente descobri que o fundador do Verbo Encarnado (Buela) tem alegações de abuso por parte dos sacerdotes, e eles esconderam isso de nós, eles não o comunicaram ao IVE. Agora vamos começar a dizer a verdade para o bem dos outros, porque pode haver mais casos. Descobri mais duas pessoas no ano passado, pessoas que foram abusadas no mesmo ano que eu, mas por outras pessoas, eu não sei", acrescentou ele.

O jovem, que ainda espera por uma resposta da instituição em que confiava há tantos anos, explicou que aquele que abusou dele ainda faz parte do IVE, mas foi enviado a outro mosteiro. "Ele não faz apenas penitência, ele vai ao seminário e continua se apresentando como sacerdote quando o Código de Direito Canônico ordena sua expulsão imediata; ele não foi punido em conformidade".

Apesar dos terríveis danos causados pelo padre que abusou dele (na época o agressor era seminarista, mas foi ordenado pouco tempo depois), Luis queria deixar claro que ele "perdoa a todos", embora desejasse que fosse o padre quem pedisse desculpas a ele e a sua família.

"O abuso sexual que sofri como menino de 12 anos foi, quatro vezes no mesmo mês, e estava tocando o corpo um do outro", explicou Luis, que ainda tem dificuldade de externar seu tormento.

"Com relação ao Padre Carlos Buela, sei por um fato que ele assediou sexualmente um padre amigo meu em Roma e está sob investigação desde 2010 e que ele foi condenado e o Papa Francisco ratificou a condenação. No entanto, os superiores do IVE esconderam esta notícia de seus membros", explicou Luis.

Ja foi sentenciado (Carlos Buela) não é hoje superior geral, mas continuam a consultá-lo como se fosse um santo; ele é um abusador e viciado em álcool, disse Luis, o Padre Buela pode continuar a exercer seu ministério, mas não de uma forma pública.

"Buela nunca deixou de visitar o IVE; 'o Padre Buela é um mito', é intocável, irrepreensível e um santo, e em realidade nao passa de um psicopata", disse o jovem.

Luis decidiu se manifestar porque soube que algo semelhante aconteceu recentemente com o sobrinho de um colega de classe dele, então todos aqueles que foram vítimas de abuso no IVE começaram a se reunir para trazer à luz sua verdade.

Outra denúncia
Ao aproximar-se, sem que eu me desse conta porquê, se levantou da cadeira e começou a abraçar-me com força, segurando-me contra minha vontade, enquanto me dava beijos com suaves mordiscos na nuca como se eu fosse uma mulher. Tentei reagir encolhendo-me os ombros e curvando-me, enquanto tentava ir-me foi então quando consegui e lhe disse que eu nao gostava disso e que me soltasse; nesse momento deixou de fazer.
Quero referir, ademais que o Pe. Buela estava completamente lúcido e em pleno uso de suas faculdades.
Este fato foi desde sempre para mi motivo de repugnancia e vergonha, jamais consegui entender e me custou enormemente aceita-lo.
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"A cabeça dessa instituição é corrupta, e eu não ficaria surpreso se aquele que abusou de mim tivesse sido abusado", explicou e acrescentou que o IVE "caiu nessa", a ponto de que todos aqueles que ousarem denunciá-lo serão acusados e perseguidos por outros membros que confiam cegamente nele.

"Queremos que aqueles que estão ali, naquela seita, acordem e vejam que há muita gente boa, porque fazem muitas obras boas, ajudam os pobres e vão para as missões mais difíceis, mas o problema é o Padre Buela e seus seguidores", concluiu o jovem.

MDZ tentou se comunicar durante os últimos dias com representantes do IVE, mas no momento da publicação deste artigo não obteve uma resposta. A instituição enfrenta, somente em San Rafael, mais queixas de vítimas de abuso sexual que, como no caso de Luis, foram encorajadas a trazer à tona os tormentos que viviam naquele lugar.

O IVE foi fundado em março de 1984 pelo "Padre" Carlos Miguel Buela, um padre que foi confinado pelo Papa Francisco a um Mosteiro de San Isidro de Dueñas de Palencia (Espanha) depois de ter sido repetidamente acusado de abusar sexualmente de outros padres.

Ao mesmo tempo, o IVE realiza obras de caridade em lugares e situações onde ninguém mais se atreveria. Em seu site há maravilhosos testemunhos de sacerdotes que chegam aos lugares onde o mundo está em guerra. Mas o "culto ao homem" conseguiu confundir alguns membros da organização que preferem acreditar que estão "difamando um santo" em vez de admitir que o chefe da organização é corrupto.

Como explicou uma das vítimas, "é como sentir que é seu próprio pai que está violando você". Padre Buela só conheceu vítimas maiores de 18 anos, mas sua influência sobre elas começou quando eram muito jovens, já que o IVE administra o chamado Seminário Menor, onde crianças a partir de 12 anos vão, confiadas por seus pais ou tentadas pela possibilidade de um dia se tornarem padres.

"As vítimas do Padre Buela têm mais de 18 anos, então se pergunta por que não lhe dão uma bofetada? Mas não é assim tão fácil, ele exerce uma espécie de manipulação espiritual muito forte nestes grupos fechados", explicou outro padre que assumiu a liderança nas reivindicações de cerca de 20 vítimas.

O padre assinalou que o fundador da congregação está confinado e, portanto, não pode exercer o ministério público, mas continua sendo o Totem, e "aquele que foi perseguido por ter sido fiel ao catolicismo tradicional".

"Uma coisa muito boa que Francisco fez foi remover a legislação que afirma que se um bispo souber de um caso de suposto abuso sexual e não o denunciar à Santa Sé, ele também se torna um participante no caso de ser culpado", disse o padre.

Para as leis eclesiásticas, o estatuto de limitações para crimes de abuso sexual de menores é de apenas 20 anos... mas elas prescrevem. Esta situação foi aproveitada por alguns padres que queriam encobrir os terríveis acontecimentos ocorridos no IVE - o Padre Luis quis denunciar em 2005 o mal que lhe havia sido feito quando era menino e seus superiores o escutaram atentamente, mas nunca levaram o caso ao Vaticano.

"Foram desonestos não terem aceitado a queixa formal; deveriam ter comunicado a Roma o caso da pedofilia, onde há um protocolo muito rigoroso a ser seguido, mas no Verbo Encarnado tudo isso foi encoberto", disse outro padre que colaborou para que a queixa canônica fosse repetida em 2015, antes que o prazo expirasse.

"O ás de espadas destes tipos de organizações são as pessoas virtuosas que estão aí dentro", já que esta situação pode muitas vezes funcionar como um método de pressão para que as vítimas não denunciem, por medo de manchar a instituição que 'faz tanto bem'. Ao mesmo tempo, a comunidade não denuncia porque a fé em Cristo é confundida com a fé em um homem que é deificado, quando "ele é apenas um homem".

Mas atrás de tudo isso estão as estatísticas, que são muito difíceis de negar, e que é a de 450 sacerdotes que foram ordenados no IVE, metade deixou a congregação e a outra metade deixou diretamente o ministério (deixaram de exercer o sacerdócio). "Muitos deles foram vítimas de abusos por parte do Padre Buela", disseram eles.

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VER: Coletiva de imprensa de Monsenhor Eduardo Taussig, bispo de San Rafael sobre o caso de Luis



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